quarta-feira, 10 de novembro de 2010

24 horas sem nordestinos por Marcelo Manzano

É inominável esse movimento xenófobo contra nordestinos e nortistas que ganhou a mente de filhinhos da classe média paulista. É fruto de tamanha ignorância e irracionalidade, que talvez mais sensato seria deixar que falassem entre si, sem que lhes déssemos eco. Porém, o fato é que essa onda fascista já ganhou visibilidade e agora se apresenta inclusive sob o abominável slogan: "São Paulo para os paulistas".

Mas essa molecada é besta mesmo! E, de tão abestada, sequer é capaz de entender o significado das críticas e dos incontáveis argumentos que a eles se contrapõem, principalmente pela internet. Agem como se estivessem esgrimando com inimigos do mundo de Harry Potter. Vivem uma realidade tão reificada, que não há argumento capaz de rasgar o véu e lhes sensibilizar para a concretude de seus jogos de palavras e para o significado real de suas bravatas.
 São mentes 'descoladas' como as dessa gente, palavras e argumentos não servem senão para apurar seu gosto pelo sangue azul. Somente ações concretas os farão despertar de seu delírio de classe rentista e fazê-los enxergar a fragilidade de sua condição privilegiada, mas altamente dependente da estrutura social - e fartamente nordestina - que lhes engrossa o maná.
Pois, por que não lhes dar um auxílio para que compreendam o quanto do Reino é feito de gente do norte e do nordeste?
Sugiro 24 horas de folga para todos aqueles que a paulistada resolveu esnobar. Que fiquem então os paulistas com os paulistas. Só 24 horas, nada que coloque em risco o reino de ninguém. São Paulo en su tinta!

Os meninos poderão ajudar mamãe a carregar o lixo, as meninas cortam a cebola, limpam o banheiro. Mas, lembrem-se, não vai dar para almoçar no Bar des Arts, no Viena, nem mesmo no Mac. Também não haverá cineminha no Shopping, nem será boa idéia sair de carro, pois o vigilante do estacionamento estará no Bar do Biro, comendo farinha seca e se perdendo na cachaça. Serão insuficientes os taxis e o metrô provavelmente não será recomendável - os cabeças chatas da manutenção só voltarão no dia seguinte. Lembrem-se também de ficar atentos quando passarem pela portaria - o Ceará não estará lá. Clube? esqueça, a piscina não foi limpa e sem cloro a micose viceja, mesmo entre os brancos, mesmo entre os paulistas. E se, apesar de todos esses possíveis percalços, resolverem se aventurar pela ruas da cidade, muito cuidado. Entre o pessoal de emergência, bombeiros, motoristas de ambulância, mecânicos e borracheiros, há uma grande maioria que é oriunda daquelas regiões acaloradas. Lembrem-se também que faltarão médicos, enfermeiras, músicos, chefs, sommeliers, baristas, alfaiates, bancários, advogados,.... um mundo de gente mal nascida, que insiste em viver nessa pujante terra de Piratininga.
É verdade que será um tanto difícil, mas, apenas por 24 hs. Nada que tire pedaço de ninguém. A brava gente bandeirante é forte. Além do mais, quem sabe os paulistas se superam e se descobrem capazes de viver sem o auxílio desprezível dessa turma do norte? Já imaginaram, vivermos apenas entre nosotros?
Ficamos então combinados. Façamos o teste. Marca-se o dia, a verdadeira "Virada Paulista!" 24 horas de sangue bom! Para que não haja riscos maiores que afetem a rentabilidade do nobre capital paulista, pode-se até escolher um domingo, quando, na pior das hipóteses, todos ficarão em suas casas, à espera da segunda e dos nordestinos.

Coragem!!!




















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